quarta-feira, 1 de maio de 2013

Carta de ex-trabalhador da FFC-UNESP/Marília sobre o que está acontecendo!!!

Há 13 anos, estudantes, professores e funcionários das três universidades estaduais paulistas começavam uma importante onda de movimentações em defesa da educação pública. Em 2000, a questão central era o reajuste salarial frente ao congelamento próprio ao neoliberalismo tucano dos anos ’90. Saímos vitoriosos, com um índice expressivo, na qual os estudantes foram parte fundamental – ainda que suas reivindicações não tenham sido atendidas. Essa aliança se repetiu por essa e outras pautas em anos seguintes mas, principalmente, em 2004 e 2007. Nesse processo, se destacou um importante setor dos professores que se diferenciava das práticas autoritárias da reitoria da universidade e das direções da unidade. Em Marília, entre esses professores, estava o atual diretor José Carlos Miguel que sempre se colocou, ao menos de palavras, ao lado dos estudantes.


No entanto, em alguns anos, os estudantes alçaram vôos sozinhos. Em 2002 quando ocorreu uma importante greve/mobilização estudantil em vários campi da UNESP, com maior força em Marília e, no mesmo ano, na USP. Em 2005 ocupamos a diretoria da FFC, por demandas muito parecidas as atuais de permanência estudantil. Naquele ano, a diretoria de Marília aprendeu uma importante tática para dividir estudantes e trabalhadores: a chantagem em cima do funcionamento de parte da estrutura universitária. 

O mesmo se repetiu em 2007 e 2010. A diretoria da UNESP mandava fechar algumas seções da própria diretoria e alegava que, assim, não seria possível efetuar o pagamento de salário dos funcionários, nem das bolsas estudantis, entre outras coisas. Dizia que a ocupação do prédio tornava impossível a realização desse tipo de atividades. Uma grande mentira! Pois sempre foi completamente possível executar esse tipo de ações mesmo de fora da diretoria. Em 2007, ocupamos por dois meses o castelo da reitoria da Universidade de São Paulo e nem sequer cogitou-se tal chantagem. Seria o espaço físico da diretoria da Unesp Marília uma repartição pública com poderes mágicos? Isso sem contar o fato de que os estudantes nunca impediram o acesso dos funcionários aquele prédio. Ou seja, mesmo que não queiram trabalhar naquele espaço, poderiam simplesmente pegar os processos que importam e sair. Mas a questão é que assim se criava uma gigantesca pressão em cima do movimento, na qual projetava uma situação de caos e acusava o movimento de responsável pela situação.

A situação era eficaz entre os funcionários, pois conseguia dividir a categoria através do assédio moral. Tão eficaz a ponto de calar funcionários que eram simpáticos a ação do movimento estudantil – e se calam porque o assédio moral se baseia em algo concreto que é a autoritária estrutura de poder da instituição e sabem que podem ser penalizados por qualquer coisa que alguns superiores consigam inventar. Evidente que não eram todos a agir assim, nem mesmo a maioria dos chefes, mas, todos sabiam que havia um acordo na alta cúpula. E, infelizmente, esse acordo se passava com a ajuda da direção sindical dos trabalhadores – a burocracia sindical.

E cá estamos em 2013, frente a mais uma movimentação estudantil. Felizmente, a tradição do movimento estudantil da UNESP e de Marília em particular sempre foi a de buscar a aliança com os filhos da classe trabalhadora. E isso podemos ver nas suas pautas de reivindicação. O que pedem os estudantes? Condições de permanência estudantil para os estudantes de pior condição socioeconômica. Pedem o que sempre pediram: Restaurante Universitário sem precarização do trabalho. Moradia estudantil para os que não conseguem bancar os cada vez mais caros alugueis. Pedem simplesmente que os poucos filhos dos setores menos privilegiados da sociedade que conseguiram passar pelo restrito funil social do vestibular possam estudar. É disso que se trata. Parte da tradição que sempre se preocupou por começar a se aliar aos trabalhadores do próprio campus. Basta perguntar para qualquer funcionário mais velho: qual greve, qual luta dos trabalhadores, os estudantes não estiveram apoiando não só de palavras, mas de fato, em todos os atos? Em qual momento os estudantes não se colocaram pra defender as bandeiras dos trabalhadores como impedir a terceirização dos serviços na universidade? Esse ano, os estudantes fazem o que sempre fizeram. Mas qual a novidade?

A novidade esse ano é que setores que se colocavam ao lado dessa luta como o próprio diretor da unidade e funcionários que sempre se colocaram a frente do sindicato dos trabalhadores hoje ocupam os cargos de comando da unidade. Uma situação curiosa na qual não se sabe se falam na qualidade de dirigentes sindicais ou de defensores da ordem e da estrutura universitária. Passa-se na boca pequena que os estudantes teriam cometido as mais terríveis atrocidades contra o prédio da administração nas últimas ocupações. O mais engraçado é que todas às vezes na qual uma ocupação era encerrada, havia uma comissão para averiguar a situação do prédio composta por membros da direção e do movimento estudantil e, na época, não averiguaram simplesmente NADA. Porque então anos depois surgem todos esses tipos de mentira? Para dividir estudantes e funcionários. Agora deveriam se perguntar: a quem serve essa divisão? Aos estudantes que buscam a todo custo se aliar aos funcionários? Aos funcionários que em cada data-base não hesitaram uma só vez em pedir apoio aos estudantes? No mês que se inicia a campanha salarial dos funcionários, a quem serve essa divisão se não a reitoria? 

A questão se resume ao seguinte: a oposição a antiga administração (Fujita/Heraldo/Tullo) assumiu esses postos para mudar alguma coisa? Assumiram para fazer a diferença? Para implementar uma política diferente da que vinha sido gerida? Ou para reproduzir o mais do mesmo, se limitando a administração burocrática e utilizando-se, inclusive das táticas de dividir a comunidade universitária através de uma paralisação artificial dos serviços da universidade? 

Rafael Del’Omo Filho (Del), ex-funcionário do Restaurante Universitário.



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